Por Que Faltam Médicos?

Frequentemente a mídia divulga que no interior do Brasil existem vagas para médico com salários de 25, 30 mil reais que não conseguem ser preenchidas. É um salário maior que o de ministro do Supremo Tribunal Federal, teto dos salários neste país. Divulgam também que os médicos não querem ir, apesar dessa oferta financeiramente tentadora. Que mesmo assim os médicos preferem ficar nos grandes centros urbanos, ou próximos ao litoral. Isso demonstraria a falta de comprometimento dos médicos com o bem estar da população. Ouvimos há alguns dias na rede Globo de televisão, logo após a notícia de que os médicos se manifestaram em todo o Brasil., que o município de Imperatriz do Maranhão tenta contratar um pediatra há um ano e meio sem sucesso, por um salário de 30 mil reais.
Um salário de 30 mil reais/mensais para o pediatra compensa a angústia de perder um paciente por falta de antibióticos ou de respirador? Angústia sentida no dia a dia de muitos profissionais, que - como eu - se aventuraram a trabalhar nos rincões deste país, com condições de trabalho muito precárias. Pipocam no facebook denúncias, inclusive com fotografias e vídeos, das péssimas condições de trabalho que todos os trabalhadores da saúde enfrentamos: Unidades de saúde que mais parecem unidades de doença… sucatedas, nas quais faltam medicamentos e às vezes até condições básicas de higiene, se configurando como verdadeiras pocilgas… fato documentado e denunciado pelo presidente da FENAM Dr. Geraldo Ferreira Filho a organismos internacionais de Direitos Humanos. Mas, digamos que o médico, indiferente ao sofrimento "com o qual já deveria ter se acostumado a conviver” desde sua formação nos hospitais universitarios (também sucateados e abandonados), ou movido por algum idealismo e espírito de aventura ou de humanidade, resolvesse aceitar ese desafio e se mudar para o interior, perguntamos: como é esse salário? Que tipo de contrato é esse, que oferece salários de 25 mil? O município tem como arcar com esses valores? E o teto do prefeito permite? O médico recebe por RPA? Conhecemos bem essas formas precárias de contratação. Denunciamos varios tipos delas, falsas cooperativas, “Pejotização”, OS/OSCIPs. A lei de responsabilidade fiscal é a desculpa mais usada pelos gestores públicos quando questionamos porque não fazem concurso para medico com esses valores - ou pelos valores efetivamente pagos, ou pelo menos com salários dignos, pois os que temos visto oferecem vencimentos aviltantes. Mas o que vemos hoje? A partir da década de 90 houve uma proliferação de Organizações Não Governamentais, que mais tarde passaram a ser Organizações Sociais - OSCIPs – para escapar da lei de responsabilidade fiscal com o limite da folha de pagamento, surgiram os famosos contratos de gestão, em que um ente privado intermedia a contratação de médicos e se acabou com a carreira pública de médico nos municípios. Por isso os prefeitos defendem e cobram do governo federal a promessa de que haverá medicos estrangeiros, fornecidos pelo Ministério da Saúde, sem ônus para os municípios. Como se fosse a panacéia que resolveria todos os problemas do SUS. Os próprios gestores afastaram os médicos do serviço público e, como a saúde é responsabilidade dos governos, estes se sentem pressionados pelo caos, e buscam soluções mágicas, como a anunciada pela MP 621. Falta respeito e vontade política. Não é com uma suposta bolsa de estudos que vai se conseguir levar e fixar médicos para o interior! É com políticas sérias de saúde, com mais recursos para o SUS, com estrutura adequada e com uma carreira de estado para os profissionais de saúde poderem

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